ABELHAS NATIVAS E SUA IMPORTÂNCIA NA AGRICULTURA

A polinização é um processo de grande importância quando se trata de melhorias no cultivo agrícola.

Através da polinização – fenômeno que consiste na troca de grãos de pólen entre uma planta e outra – ocorrem inúmeras melhorias na produtividade do cultivo com a geração de frutos maiores, de maior qualidade e quantidade de suco, com melhor aspecto geral do fruto e com amadurecimento uniforme, diminuindo perdas na colheita.

O processo de polinização pode ocorrer de diversas formas: através do vento (anemofilia), pela água (hidrofilia) ou através da dispersão por algum grupo animal como aves (ornitofilia), morcegos (quiropterofilia) e insetos (entomofilia). Dentro desse último podemos destacar o trabalho de besouros, borboletas e, principalmente, das abelhas. São elas as principais encarregadas de, percorrendo de flor em flor, coletar o pólen de uma e levando até a outra, promovendo a polinização e interferindo positivamente no desenvolvimento dos frutos dessas plantas.

Porém, quando pensamos em abelha, é comum nos vir à mente a abelha-comum (Apis mellifera). A A. mellifera não é nativa das Américas, e apesar de também desempenhar o seu papel como polinizador, não podemos deixar de mencionar o importante papel das nossas espécies de abelhas nativas do Brasil e a sua importância para o cultivo de diversas espécies de plantas. No Brasil existem 1.678 espécies de abelhas nativas, com diferentes hábitos, comportamentos e ecologia, onde cada espécie desempenha seu papel na polinização de cultivos no país.

Exemplificando: algumas espécies de plantas da família Solanaceae, como a berinjela e o tomate, requerem um tipo de polinização peculiar: a polinização por vibração. Nesse tipo de polinização os insetos emitem uma espécie de vibração do tórax, agitando as anteras da flor e liberando o pólen. A abelha-comum (Apis mellifera) não faz esse tipo de polinização, não sendo então o agente polinizador ideal para espécies que requerem esse mecanismo. Todavia, existem no Brasil abelhas nativas como as mamangavas e algumas espécies de abelhas-sem-ferrão que apresentam esse comportamento, sendo particularmente necessárias para a boa produtividade desses cultivos cujas plantas possuem a necessidade de polinização por vibração de suas anteras.

Um outro exemplo clássico é a estreita relação entre o maracujá e seus polinizadores: as mamangavas do gênero Xylocopa. O maracujazeiro é uma planta trepadeira com flores peculiares, de tamanho grande e ricas em néctar. A disposição dos órgãos reprodutivos florais não permite que a polinização ocorra por outros meios, como pelo ar ou autopolinização. Além disso, as anteras liberam o pólen antes da abertura dos estigmas, sendo impossível qualquer tipo de polinização que não seja por agentes polinizadores bióticos, como as abelhas. E é aqui que a mamangava entra: seu tamanho avantajado e características morfológicas atuam perfeitamente na polinização do maracujá. Algumas espécies de abelhas menores até conseguem coletar o néctar produzido pela planta, mas não tocam diretamente nos órgãos reprodutores das variadas flores e acabam não realizando a polinização.

Essa relação atua como um ótimo exemplo da necessidade da preservação de ecossistemas como um todo, onde a preservação e presença das abelhas do gênero Xylocopa implicará diretamente na capacidade produtiva do maracujá. Sem essa abelha, a planta cresce, desenvolve flores e morre, pois onde não ocorre a polinização específica pelo inseto não é possível gerar seus suculentos e produtivos frutos. E os exemplos ilustrados acima são só alguns dos casos mais comumente conhecidos das relações entre as abelhas e polinização especial de plantas. O grande número de espécies de abelhas nativas no Brasil carrega consigo também os mais variados papeis, nos mais variados graus de importância. Conservar as espécies de abelhas nativas trará não só benefícios para a produção agrícola, que comprovadamente apresenta inúmeras melhorias com a presença desses insetos, mas para o ecossistema como um todo.